segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Obrigado António Sérgio

Parece-me um excelente modo de iniciar este blog: fazer uma homenagem a um grande homem que nos deixou há cerca de uma semana. Foi com ele que aprendi a gostar de muita da música que mais ouço e foi ele que mais me influenciou nos meus gostos musicais. Foi "companheiro" de muitas noitadas a estudar. Eu que acredito que o maior problema deste país é o seu défice cultural, sem dúvida que ficámos todos mais pobres ao perder um dos maiores divulgadores de música. Há quem lhe chame o John Peel português. Parece-me redutor. É o António Sérgio.

Entrevista à radar:





O Miguel Esteves Cardoso fez uma crónica no Jornal Público de 03.Nov.2009 que, peço desculpa a ambos, mas não resisto a transcrever:

"O som da frente

Com que então, morreu António Sérgio. Ora muito obrigado. Obrigado, Deus, por teres decidido. E obrigado, António, por te teres deixado levar. Veio mesmo a calhar a tua morte. O teu trabalho aqui na terra estava mais do que acabado e, graças a Deus, há centenas de novos Antónios Sérgios para te substituir. Que grande pontaria.

O que andam vocês todos a tramar na afterlife? A afterlife é a mais cool de todas as after hours. Não é música toda a noite e todo o dia: é música toda a cabrona da eternidade. Já lá estava uma redacção de sonho: o Rolo Duarte, o Fernando Assis Pacheco,o Cáceres Monteiro, o Manuel Beça Múrias, o Afonso Praça, a Edite Soeiro, o Eduardo Guerra Carneiro. Com uns colaboradores que já não existem e cujos nomes são tantos e tão grandes que não nomeio sequer um, com medo de vos deprimir com a comparação com a lista dos que ficámos vivos.

Que jornal; que revista; que estação de rádio estão vocês a fazer aí no pós-vida? Não lá em cima, no céu, mas aqui ao lado, paralelamente, no after, no depois, no enquanto estamos a dormir e a viver.

A morte de tanta gente boa faz-me acreditar que, quando cada um de nós morrer, seremos bem recebidos. Haverá bons inéditos; bons jornais; boa música; bom cinema. Imaginem só Bach, Wagner, John Lennon, Ian Curtis, Stockhausen - e, para apreciar e descobrir o resultado, António Sérgio.

Como sempre, adiantaste-te. E nós vamos atrás de ti. Está certo. Foi sempre assim.

Miguel Esteves Cardoso"



2 comentários:

  1. Já tive um programa de rádio e o nome que lhe dei foi "Rolls Rock" - copiado descaradamente do programa do António Sérgio da década de 80. Visto agora, 20 anos depois, já naquela altura o homem do "som da frente" e do "lança-chamas" estava muito à frente. Fica-me para sempre na memória o genérico poderoso dos Xutos (som da frente) e aquela voz grave e rouca a meio da noite. Adeus e obrigado, António Sérgio.

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  2. Genérico da Hora do Lobo, na Comercial: http://www.youtube.com/watch?v=fZSYAT414iE

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